Capítulo 29 — Quando as vozes do passado tentam falar

“Cristo não me lembra de quem eu fui. Ele me lembra de quem estou me tornando.”

“Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, benignidade,
bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio.”
— Gálatas 5:22-23

“A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza.”
— 2 Coríntios 12:9

Nem sempre o inimigo vem disfarçado de tentação.
Às vezes, ele vem em forma de lembrança.
Às vezes, ele vem com rosto conhecido, com voz familiar,
e repete — com ironia e suavidade — “Eu lembro quem você era.”

E, por um instante, a alma treme.
Porque, no fundo, a gente também lembra.
Lembra das versões que não representavam quem somos hoje.
Lembra da mulher que agia por medo, que reagia por carência,
que buscava no barulho o que só o silêncio de Deus poderia curar.

E vem uma pontada de vergonha.
Porque ninguém gosta de se ver no espelho do passado.
Mas é justamente aí, nesse instante de constrangimento,
que o amor de Cristo sussurra:

“Filha, eu também lembro. Mas Eu não te acuso. Eu já te transformei.”

E durante muito tempo, eu achei que meu temperamento me definia.
Que eu era explosiva porque o outro me tirava do sério.
Ciumenta porque o outro me deixava insegura.
Barulhenta porque o mundo não me ouvia.

Mas a verdade é que eu só estava vazia.
E vazios fazem barulho.
Gritam por validação, imploram por atenção,
tentam preencher o buraco da alma com o que o mundo oferece 
e o mundo, cruel como é, só devolve mais vazio.

Foi preciso me render a Cristo pra entender que
o domínio próprio não nasce do esforço, mas da presença.
Que a mansidão não é fraqueza, mas força sob controle.
Que os frutos do Espírito não brotam por disciplina, mas por convivência.
Quanto mais tempo passo com Ele, mais me pareço com Ele.

Cristo não me mudou de um dia pro outro.
Ele me tem mudado todos os dias.

Nos erros pequenos, nos recomeços cansados, nas orações choradas.
A cada dia, uma lasca do velho eu cai — e nasce algo novo.


Ele é o artista e eu sou o barro.
Ele me lapida com paciência, mesmo quando eu ainda me contorço no torno.
E quando o som do cinzel dói, Ele me lembra:

“Eu não estou te quebrando, estou te formando.”

Hoje, quando as vozes do passado tentam me lembrar de quem eu fui,
eu respiro fundo e me lembro: Deus não fala com defuntos.
E aquela mulher — barulhenta, vazia, carente — já morreu há muito tempo.

Mas eu aprendi que os frutos do Espírito não são colhidos no campo da pressa,
mas no solo do relacionamento com Deus.
Eles crescem quando a gente ora, mesmo cansada.
Quando perdoa, mesmo ferida.
Quando se cala, mesmo sabendo que poderia ter razão.
Eles florescem no cotidiano — no trânsito, na fila, no trabalho, na rotina de mãe.

E quanto mais eu busco a presença dEle,
mais percebo que não é sobre melhorar — é sobre me submeter.
Não é sobre evoluir — é sobre ser moldada.
Não é sobre me esforçar — é sobre ser preenchida.

Deus me lembrou que Ele não é um Deus de gritaria, confusão ou pressa.
Ele é um Deus de fruto maduro, colhido com tempo, cuidado e fé.

E o que me consola é saber que, se hoje ainda erro, ainda caio, ainda sinto vergonha
é porque Ele ainda está trabalhando em mim.

E quando as vozes vierem, eu vou me lembrar:
Eu não sou o que fiz — eu sou o que Cristo está fazendo.

E a cada nova manhã, Ele renova a colheita.
Porque o Deus que planta, também permanece.

“Sabemos que o nosso velho homem foi crucificado com Ele,
para que o corpo do pecado seja destruído,
e não sejamos mais escravos do pecado.”
— Romanos 6:6

Pamela Martins

“Cada testemunho compartilhado aqui conta um pouco de mim e muito de Deus.
Espero que aquilo que um dia me feriu, sirva de cura para quem ler, e que cada palavra escrita com dor, floresça em consolo, esperança e recomeço.”

Compartilhe essa postagem

Comentários que floresceram por aqui.

0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments