Capítulo 31 — O “amor” que quase me desfez

Quando o cuidado vira controle, e o amor deixa cicatrizes que só Deus pode curar.”

No começo, ele era o homem que toda mulher sonha encontrar.
Flores inesperadas, surpresas planejadas, mensagens espalhadas pela casa.
Ele me fazia sentir a mulher mais especial do mundo
e talvez, por um tempo, eu tenha realmente acreditado que era.

Mas o amor dele tinha doses.
E como toda droga, começou generoso, viciante, arrebatador.
Até que, aos poucos, ele foi diminuindo a intensidade, o afeto, a atenção.
E eu, já dependente, comecei a implorar pela próxima dose de amor.
Quando não vinha, tremia por dentro — 
e no desespero da abstinência, ele dizia que eu era louca.
Diagnosticava meus sintomas como se fosse o terapeuta da minha alma,
enquanto era ele quem me deixava doente.

Foram anos de manipulação mascarada de cuidado.
Ele me convenceu de que eu era incrível — mas apenas porque ele me moldava.
De que eu era forte — mas apenas porque ele me sustentava.
De que eu era luz — mas apenas porque refletia a dele.
E, sempre que eu tentava brilhar por conta própria,
ele me derrubava do pedestal que dizia ter me colocado.

Até que eu desabei.
Uma depressão pós-parto misturada com um burnout no trabalho,
e uma dor profunda que nem eu sabia nomear.
Foi no fundo desse abismo que nasceu o primeiro capítulo deste blog .
O lugar onde comecei a juntar os cacos depois do divórcio,
depois da ruína, depois de ter me perdido dentro de um amor que me desfez.

A terapia me ajudou a entender o que aconteceu,
mas foi Deus quem me mostrou quem eu era antes que tudo isso acontecesse.

E foi aí que eu percebi que as “verdades” dele nunca foram absolutas.
Porque o Deus que me criou não me diminui pra caber em ninguém.
Ele não me ensina dependência, Ele me ensina liberdade.
E amor, pra Deus, nunca foi prisão — sempre foi escolha.

Hoje eu entendo que aquele amor não era amor,
era controle com perfume de afeto.
E que a cura não veio quando eu esqueci o que vivi,
mas quando aceitei olhar pra ferida e chamar pelo nome certo.

Foi Deus quem restaurou minha identidade,
quem me devolveu a maternidade sem culpa e a feminilidade sem medo.
Foi Ele quem me ensinou que não há cura sem verdade
e que a verdade liberta até das ilusões mais bem embaladas.

E se você, mulher, também já viveu algo assim,
se um dia se viu pequena demais, dependente demais,
ou presa num amor que mais te confundia do que te curava,
eu quero te dizer: eu entendo.

Muitas de nós crescemos buscando validação
em lugares onde deveríamos ter encontrado acolhimento.
Buscando um pai em rostos errados,
tentando merecer amor como quem tenta passar numa prova impossível.
E essa sede antiga nos torna presas fáceis
para homens que sabem exatamente onde a nossa fome dói.

Mas você não precisa mais se contentar com migalhas emocionais.
Não precisa se sujeitar a relações que te ferem pra sentir que é amada.
Existe um amor que não exige performance, nem cativeiro.
Um Deus que oferece, gratuitamente,
tudo aquilo que você procurou em mãos humanas.

E Ele faz isso abundantemente, infinitamente, muito além do que você imagina merecer.
Só é preciso um coração quebrantado e disposto a ser curado
não por um homem, mas por Aquele que te criou.

“E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” — João 8:32

Senhor, obrigada por me lembrar que eu não sou o que alguém disse que eu era.
Que a minha força não vem de quem me levantou, mas de quem me sustenta.
E que o amor verdadeiro não me torna menor — ele me devolve a inteireza.

E, por fim, preciso confessar:
este foi o capítulo mais difícil de nascer.
Não pelo tema, mas pela lembrança.

Porque revisitar o lugar onde me perdi
e saber o quanto Deus me sonhava livre, inteira e amada,
me quebra por dentro, mas ao mesmo tempo, me refaz.

Escrever foi como abrir uma cicatriz que já não sangra,
mas que ainda fala.
E ela diz: “Aqui doeu. Mas aqui também começou o milagre.”
Hoje, o que um dia foi vergonha, virou testemunho.
E cada linha deste capítulo é um pedaço da graça que me devolveu à vida.

Pamela Martins

“Cada testemunho compartilhado aqui conta um pouco de mim e muito de Deus.
Espero que aquilo que um dia me feriu, sirva de cura para quem ler, e que cada palavra escrita com dor, floresça em consolo, esperança e recomeço.”

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