Capítulo 33 — O Coração por trás da casca

“Nem todo silêncio é frieza. Às vezes é defesa.”

Há pessoas que a vida endureceu
e mesmo sem perceber, elas criam cascas para sobreviver.
Por fora, parecem frias. Por dentro, gritam por cuidado.
E quando Deus nos coloca diante delas, não é por acaso:
é pra que a gente enxergue o que o mundo já parou de tentar ver.

No começo, era difícil conviver com aquela liderança.
Ela parecia sempre pronta para responder, mas nunca para ouvir.
Cada dor que eu trazia virava estatística; cada cansaço, uma fraqueza.
E eu me calei — até o dia em que, com medo, decidi falar.
Disse que me sentia invalidada, que não queria mais esconder o incômodo.
Achei que seria o fim da relação.
Mas, pra minha surpresa, foi o começo.

O feedback que eu temi dar foi o que abriu o espaço para que a gente se entendesse.
E, naquele instante, percebi: às vezes, o amor se manifesta na coragem de dizer a verdade.
Ela mudou. E eu também.

Com o tempo, aprendi que a rispidez dela era uma armadura.
Por trás das respostas duras, havia um coração exausto.
E quando o Espírito Santo me ensinou a olhar além da superfície
Eu comecei a ver a mulher que ela escondia — forte, mas cansada; segura, mas ferida.
E ali começou o milagre silencioso:
duas pessoas completamente diferentes aprendendo a se lapidar uma na outra.

Nem sempre foi fácil.
Houve dias em que ela cortava sem perceber,
em que o tom era mais frio do que o necessário.
Mas também houve dias em que ela me abraçou com a alma.
E entendi que era ali que Deus queria me ensinar sobre o amor que constrói
aquele que não depende da reciprocidade, mas da obediência.

Hoje, olhando pra trás, percebo que desde o início,
ela me treinou para um dia ocupar o lugar que era dela.
Talvez sem saber, ela tenha me preparado para continuar o legado que construiu.
E eu sigo, grata.
Não apenas pelo que ela fez,
mas por quem precisei me tornar para estar ao lado dela.

Algumas pessoas são enviadas para nos ensinar sem dizer uma palavra.
Outras, para nos moldar com os atritos.
Mas todas fazem parte do mesmo propósito:
O de formar em nós o coração de Cristo
O único capaz de amar o difícil, compreender o incompreensível
e permanecer quando seria mais fácil desistir.

“O homem vê o exterior, mas o Senhor vê o coração.”
— 1 Samuel 16:7

E depois dessa experiência, passei a fazer uma oração
que até hoje repito quando encontro corações cobertos por cascas difíceis:

“Senhor,
ensina-me a enxergar como Tu enxergas.
A não desistir de quem o mundo já rotulou,
a amar o que ainda está em construção.
Dá-me a paciência de quem entende que alguns corações não são frios — são feridos.
E que por trás da rigidez, muitas vezes há um pedido de socorro.
Que eu nunca me esqueça de que fui alcançada pela Tua graça
quando eu também usava armaduras.
E que o mesmo amor que me restaurou seja o amor que eu ofereço
mesmo quando dói, mesmo quando não volta.
Que eu aprenda a ver o ouro nas rachaduras,
a semente sob o solo endurecido,
o Teu reflexo no coração que ainda não Te reconhece.
E quando o cansaço me fizer querer recuar,
lembra-me que o Teu amor em mim não é emoção — é missão.
Porque amar como Tu amas é o maior chamado de todos.”

“E acima de tudo isto, revesti-vos do amor,
que é o vínculo da perfeição.”
— Colossenses 3:14

Pamela Martins

“Cada testemunho compartilhado aqui conta um pouco de mim e muito de Deus.
Espero que aquilo que um dia me feriu, sirva de cura para quem ler, e que cada palavra escrita com dor, floresça em consolo, esperança e recomeço.”

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