“Quando Deus usa o outro pra revelar o que ainda precisa ser transformado em nós.”
Há dias em que Deus não fala com voz, fala com reflexo.
E o reflexo, às vezes, tem rosto de gente difícil.
Gente que desperta em nós aquilo que achávamos já curado.
Que cutuca feridas antigas, reacende memórias,
ou simplesmente nos irrita — não porque é má,
mas porque espelha o que ainda vive escondido dentro da gente.
Chamam isso de neurônios espelhos,
mas o céu chama de propósito.
E o que a psicologia chama de traumas gêmeos,
Deus usa como ferramenta de lapidação.
Porque o defeito que mais julgamos no outro talvez ainda seja
o que o Senhor está tentando curar em nós.
E a vida é cheia desses testes sutis.
O colega que desperta nossa crítica.
A amiga que parece soberba.
A pessoa que fala demais e nos lembra do tempo
em que também falávamos sem sabedoria.
E lá está Deus — disfarçado de irritação — nos ensinando humildade.
Mas é preciso discernir antes de julgar.
O discernimento vem do Espírito; o julgamento, da carne.
O discernimento cura; o julgamento condena.
E quando o Senhor quer nos amadurecer,
Ele nos coloca frente a frente com o espelho certo —
aquele que revela o que ainda precisa morrer.
Foi isso que entendi quando a vida me colocou diante de alguém
que desperta em mim mais desconforto do que afinidade.
Alguém que, talvez sem saber, me espelha.
E entre o incômodo e a empatia, eu percebi:
nem sempre é hora de entender, às vezes é hora de confiar.
Porque Deus não explica — Ele lapida.
E o tempo Dele não é de lógica, é de propósito.
Há estações que vêm pra desinstalar o conforto,
e outras que chegam pra podar a vaidade.
Mas todas — todas — trazem frutos,
desde que a gente permaneça na videira.
A frutificação não acontece na mesma estação em que o orgulho floresceu.
Para gerar novo fruto, Deus precisa mudar o clima,
mexer no solo, derrubar folhas que já cumpriram o papel.
As estações mudam, sim.
Mas a Palavra, as promessas e a presença de Deus são imutáveis.
E quando o julgamento quiser falar mais alto, lembra:
“Cada um prestará contas de si mesmo diante de Deus.” — Romanos 14:12
Porque não é sobre o outro. É sobre mim.
Sobre o quanto eu permito que o Espírito Santo me corrija,
pra que eu não precise ser envergonhada pelo reflexo do próximo.
“Se julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados.” — 1 Coríntios 11:31
Esse é o segredo da maturidade espiritual:
olhar pro espelho antes de apontar o dedo.
Pedir discernimento antes de emitir opinião.
E orar, em vez de comentar.
Porque o amor verdadeiro — aquele que vem do alto —
não ignora o erro, mas também não apedreja quem erra.
Ele intercede.
Ele vê o pecado, mas pede pela alma.
E esse é o tipo de amor que Deus espera de quem já provou da graça.
“Se alguém vir o seu irmão cometer pecado que não leva à morte,
pedirá, e Deus dará vida a esse irmão.” — 1 João 5:16
Que a gente aprenda, então, a ser espelho da graça e não da crítica.
A enxergar a lição antes da ofensa.
E a aceitar que Deus pode usar até o desconforto
para nos tornar mais parecidos com Ele.
E que todos os dias tenhamos a humildade de clamar:
“Senhor,
ensina-me a discernir sem julgar,
a ver o outro com Teus olhos e a mim com Tua verdade.
Que o reflexo que o Senhor me mostra não me constranja, mas me cure.
E que eu confie mesmo quando não entendo,
porque sei que toda estação tem um propósito —
e o Teu propósito nunca muda, mesmo quando tudo ao redor muda.”
“Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós.” — João 15:4