“O amor que me esperou de braços abertos, mesmo quando eu fui embora.”
“Levantarei e irei ter com meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e diante de ti.”
— Lucas 15:18
Eu tinha dezoito anos e uma certeza:
Eu sabia o que era melhor pra mim.
Ou achava que sabia.
Sempre fui a filha exemplar — notas altas, poucas rebeldias, a menina que fazia o que era certo.
Mas dentro de mim existia uma fome de liberdade.
E essa fome me levou pra longe de casa… e mais ainda, pra longe do coração do meu pai.
Naquele dia, quando ele tirou minha chave e disse que eu só entraria e sairia com a permissão dele, algo dentro de mim gritou.
Era orgulho, era mágoa, era a menina tentando ser mulher antes da hora.
Coloquei algumas roupas num saco de lixo e fui embora.
Sem destino, sem plano, só com a teimosia como guia.
Os dias seguintes foram duros.
O “amor rebelde” não sustentou as promessas,
e eu me vi sozinha, morando num espaço pequeno e tentando fingir que estava bem.
Mas à noite, o silêncio gritava mais alto.
E entre um soluço e outro, o que doía não era o perrengue — era a saudade.
Saudade de casa.
Do cheiro do café que meu pai tomava antes de sair.
Da segurança que eu só percebi que existia quando deixei de ter.
Eu me dizia forte, mas, no fundo, estava perdida.
E meu pai, mesmo ferido, nunca me esqueceu.
Ele esperou.
Esperou com o mesmo amor firme e silencioso…
com que Deus espera por nós quando nos afastamos d’Ele.
Quando voltei pra casa
— cansada, quebrada e grávida sem saber —
ele me recebeu de braços abertos.
Comprou uma cama nova. Foi me buscar. Trouxe minhas coisas.
Não me perguntou por quê; apenas me mostrou pra quê:
Pra me ensinar o que é amor verdadeiro.
Hoje, olhando para trás, percebo que aquele episódio foi o espelho da minha vida espiritual.
Fiz com Deus o mesmo que fiz com meu pai:
Saí de casa achando que sabia o caminho.
Vivi do meu jeito.
Quebrei a cara.
E, quando não restava mais nada, Ele estava lá — de braços abertos, dizendo:
“Bem-vinda de volta, filha.”
O amor de Deus é assim.
Não é o amor que pune, é o amor que espera.
Não é o amor que exige, é o amor que acolhe.
E, muitas vezes, é nas nossas maiores rebeldias que descobrimos o tamanho da graça d’Ele.
Hoje, o laço que tenho com meu pai é o reflexo do laço que tenho com Deus.
Mais maduro, mais leve, mais cheio de verdade.
Eu entendo que aquele afastamento foi parte da lapidação,
porque há vínculos que só se fortalecem depois de terem sido quebrados e restaurados com amor.
E se você, tem um relacionamento que se partiu — com um pai, uma mãe, um filho,
ou até mesmo com Deus — saiba disso:
O amor verdadeiro não se encerra.
Ele espera.
Ele cura.
Ele refaz.
“E, quando ainda estava longe, seu pai o viu, e, movido de íntima compaixão, correu, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou.”
— Lucas 15:20
O amor que vem de Deus é o único capaz de reconstruir o que o orgulho destruiu.
E às vezes, Ele permite o afastamento para ensinar que voltar não é fraqueza — é sabedoria.
E diante de tudo isso, não encontrei palavras mais sinceras do que uma oração:
“Senhor, obrigada por me amar mesmo quando eu saí de casa.
Por me esperar quando o mundo me cansou.
Por me receber com um abraço quando eu achei que só merecia silêncio.
Que o Teu amor continue curando o que a rebeldia um dia feriu.
E que eu nunca me esqueça de onde fui resgatada
nem de quem me esperou com o coração aberto.”
Amém!
“Com amor eterno te amei; por isso, com benignidade te atraí.”
— Jeremias 31:3
Porque, no fim, é isso que o amor do Pai faz: transforma partida em reencontro.
Ele não invade, espera.
Não acusa, acolhe.
E quando a gente volta — mesmo ferido, mesmo cansado —
Ele não pede explicações, Ele prepara festa.
Porque o céu sempre celebra quando um filho volta pra casa.
E se um dia você também se perder pelo caminho, que o amor do Pai te encontre e te conduza de volta pra casa.