Capítulo 55 — Quando a tristeza me trouxe de volta

“A dor que me levou ao colo do Pai valeu mais do que as alegrias que me afastaram d’Ele.”

Essa frase chegou assim, sem pedir licença, e atravessou tudo o que eu acreditava sobre mim:
“A tristeza que me aproximou do Senhor foi muito maior do que a alegria que me afastou d’Ele.”

E eu senti isso como verdade antes mesmo de entender como poesia.
Porque na minha história…
Foi sempre assim.

Não foram os dias de vitória que me levaram até Deus.
Foram os dias de vazio.
Os dias em que eu achei que tinha tudo — e mesmo assim faltava alguma coisa.
Os dias em que a alegria era tão alta que a minha voz ficou longe da d’Ele.

Porque a alegria, quando não nasce do céu, tem um efeito silencioso:
Ela te distrai de Deus.
Te seduz com o brilho do que deu certo.
Te convence de que o mérito é só teu.

E o inimigo sabe disso.
Ele não precisa te assustar para te perder — basta te aconchegar.
Basta te oferecer uma vida boa o suficiente, confortável o suficiente, “leve” o suficiente para você acreditar que não precisa de Deus para ser feliz.
Porque quando a felicidade vem embalada por aquilo que o mundo chama de prosperidade, a gente se acomoda… e não percebe que está sendo enfeitiçado.

É assim que ele trabalha:
Ele transforma o pecado numa gaiola de luxo.
Uma gaiola acolchoada, decorada, perfumada, com tudo o que você acha que é bom.
E o detalhe mais cruel?
A porta da gaiola fica sempre aberta.

Você vive ali… confortável.
E pensa:
“Quando eu quiser sair, eu saio.”
Mas enquanto isso… fica.
Se acostuma.
Se acomoda.
Acredita que está no controle — quando, na verdade, está só presa com vista bonita.

Até que um dia…
A porta se fecha.
Definitivamente.
E ali já não há arrependimento, volta ou resgate.

É por isso que tantas alegrias nos afastam de Deus:
não porque são ruins, mas porque são anestésicos.
E o anestésico do conforto é um dos venenos mais sutis do inimigo.

E foi exatamente ali que eu me perdi.
Não no sofrimento, mas no sucesso.
Não na dor, mas no brilho.
Não no vale, mas no topo.

E então veio a tristeza.
Aquela que desmonta, que desarma, que revela a fraqueza que o orgulho esconde.
E, pela milésima vez, eu desabei nos braços de Deus.
Mas dessa vez eu não fui como uma pedinte procurando alívio.
Eu fui como uma filha cansada de viver longe de casa.

E no fundo do coração, eu ouvi a verdade que sempre esteve lá:

“Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei, porque Tu estás comigo.”
— Salmos 23:4

Foi no vale — não no topo — que eu reencontrei o meu Pai.
Foi na falta que eu fui preenchida.
Foi na queda que eu fui levantada.
Foi na tristeza que eu entendi o quanto eu precisava d’Ele.

E hoje, olhando pra trás, eu já não sinto vergonha do que vivi.
Eu não me culpo mais por ter voltado tantas vezes,
do meu jeito torto, carregando restos de alegrias vazias.
Eu só reconheço que a tristeza nunca foi punição — foi convite.
Convite para voltar.
Para me render.
Para reconhecer que toda alegria que não tem Deus no centro… desmorona cedo ou tarde.
E que toda “gaiola confortável” do mundo… mais cedo ou mais tarde se torna prisão.

Mas toda tristeza entregue nas mãos d’Ele vira testemunho.

“Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados.”
— Mateus 5:4

E assim Deus fez comigo:
Transformou minha dor em semente.
Transformou meu pranto em raiz.
Transformou o que me destruiu em jardim.

As lágrimas que eu derramei se tornaram as flores que hoje eu escrevo.
E cada capítulo deste blog é prova viva de que a tristeza que te leva ao Senhor vale mais do que qualquer alegria que te afasta d’Ele.

Porque a verdadeira alegria não nasce no aplauso.
Nasce na presença.
Nasce no abandono do orgulho.
Nasce quando você entende que não quer mais viver longe do Pai — nem mesmo nos dias bons.

E quando o céu me lembrou dessa promessa, tudo fez sentido:

“Ele enxugará de seus olhos toda lágrima… e não haverá mais dor.”
— Apocalipse 21:4

Não é a dor que vence no final.
É Ele.
Sempre Ele.

E foi desse lugar de verdade que nasceu a minha oração:

“Senhor, obrigada pela dor que me devolveu à Tua presença.
Pelos vales que me ensinaram o caminho de volta.
Por cada lágrima que o Senhor transformou em entendimento.
Que eu nunca mais confunda conquista com independência, nem alegria com afastamento.
Ensina-me a permanecer em Ti nos dias bons e a descansar em Ti nos dias maus.
Que toda dor seja costurada pela Tua graça e toda alegria nasça da Tua vontade.”
Amém!

“Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nele, e o mais Ele fará.”
— Salmos 37:5

Pamela Martins

“Cada testemunho compartilhado aqui conta um pouco de mim e muito de Deus.
Espero que aquilo que um dia me feriu, sirva de cura para quem ler, e que cada palavra escrita com dor, floresça em consolo, esperança e recomeço.”

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