Capítulo 58 — Quando Deus afia, esconde e lança

“Há respostas que chegam como lâmina — cortam, tratam e reposicionam.”

Nesta semana, Deus começou a me falar antes mesmo de eu perceber que estava ouvindo.
Foi sutil, firme e profundo.
E, como sempre, começou pelo coração — não pela circunstância.

Eu senti como se Ele estivesse afiando áreas dentro de mim que eu achava resolvidas,
como quem passa a lâmina na pedra, esperando o som certo antes de usar.

E o curioso é que tudo começou antes da pregação de domingo — onde Ele me entregou a confirmação final.
Versículos que me atravessavam,
pensamentos que vinham de forma insistente,
e algumas perguntas que cutucavam meu espírito com força:

O que a minha vida está revelando sobre Cristo?”
“Será que alguém consegue conhecer Deus através do que vê em mim?”
“Será que o evangelho que eu vivo é mais forte do que o evangelho que eu falo?

Foi então que revisitei uma lembrança antiga:
Uma frase que ouvi anos atrás, mas que marcou a minha vida:
Um pastor dizia que sempre ministrava com intensidade porque alguém ali poderia estar ouvindo sobre Cristo pela primeira vez… e alguém também poderia estar ouvindo pela última vez.

E aquilo voltou como flecha para dentro de mim.

“Intensa não é a pessoa — intensa é a consciência de eternidade.”

E enquanto vivi essa inquietação silenciosa,
Deus começou a costurar as partes da minha semana,
como quem monta um quebra-cabeça para revelar uma mensagem.

E então chegou o domingo.
A pregação falava sobre Isaías 49:2 e eu não ouvi aquele texto como informação.
Eu ouvi como resposta.

“E fez da minha boca como uma espada aguda;
na sombra da sua mão me escondeu,
e me tornou uma flecha polida.”
— Isaías 49:2

E quando o pastor falou sobre Deus afiar primeiro a boca,
eu entendi que Ele estava era afiando a minha vida.
A sensibilidade, o incômodo, a exposição de áreas que eu tentava ignorar, nada era emocional.
Era espiritual.

Porque a Palavra só transforma o outro quando primeiro transforma quem a carrega.
E Deus estava arrancando impurezas no segredo antes de me permitir tocar alguém com verdade.

E quando ele falou sobre Deus esconder, meu coração finalmente encontrou sentido para os últimos meses.
O silêncio, o recolhimento, o afastamento das redes, o convite para o secreto…
Não era retração. Era preservação.
Deus me escondeu não para me punir, mas para não me perder.
Porque só guardamos aquilo que não queremos ver escapar das mãos.
Ele me guardou de barulhos, de distrações, de exposições que eu não teria maturidade para sustentar.
Guardou porque sabia quem eu era de verdade, mesmo quando eu fingia já estar pronta.

E então veio o refinamento.
E é nessa hora que a gente percebe que não foi mérito, nem força, nem disciplina.
Foi graça.
Deus limpou o que eu não sabia que ainda me contaminava.
Ele me restaurou nas fissuras que eu escondia até de mim.

Porque o verdadeiro refinamento é quando o céu remove não apenas os excessos — mas também os motivos errados.
E a pregação não trouxe novidades. Ela trouxe a confirmação.
Tudo o que Deus estava sussurrando no meu devocional, na minha semana…
Ele gritou no meu espírito no domingo.
Tudo que Ele começou em silêncio, Ele assinou em voz alta.

E eu entendi que esse processo todo — afiar, esconder, refinar — não era só teologia.
Era a história que Deus estava escrevendo em mim.

Eu fui afiada.
Eu fui escondida.
Eu fui refinada.

E agora, de forma tão suave quanto irresistível,
eu sinto que Ele começa a me posicionar como flecha.
Mas não uma flecha lançada pelo impulso e sim pelo tempo certo.
Não pelo meu desejo, mas pela mão dEle.

E à medida que essa compreensão descia no meu espírito, algo dentro de mim começou a orar sem que eu percebesse.
Era como se cada parte da reflexão empurrasse meu coração para uma conversa natural com Deus:

“Senhor, obrigada por me afiar antes de me usar,
por me esconder antes de me expor,
por me refinar antes de me lançar.
Obrigada por confirmar no público aquilo que o Senhor começou no secreto,
por não permitir que eu me perdesse antes do tempo,
por não me entregar a lugares onde meu caráter ainda não estava pronto para ficar.
Mantém meu coração no Teu ritmo, no Teu processo, no Teu tempo.
Que eu continue sendo flecha na Tua mão e não na minha pressa.
Que a transformação que o Senhor fez em mim não seja estética, mas eterna.
E que aquilo que o Senhor poliu, o Senhor use — como quiser, onde quiser, quando quiser.
Amém.”

E assim, sem perceber onde terminava a reflexão e começava a oração,
eu entendi que Deus não estava apenas falando comigo — Ele estava me preparando.

E quando Deus prepara…
Ele lança.

Porque a transformação de Deus nunca é suave — ela é profunda.
Nunca é estética — ela é estrutural.
Nunca é parcial — ela é total.
Ele não reforma — Ele reconstrói.

E toda flecha polida passa pelo silêncio, antes de passar pelo alvo.

Porque Deus não lança quem Ele não tratou.
E não expõe quem Ele ainda está guardando.
Mas quando Ele termina… ninguém segura o envio.

“O Deus que me cingiu de força, aperfeiçoou o meu caminho.”
— Salmos 18:32

Pamela Martins

“Cada testemunho compartilhado aqui conta um pouco de mim e muito de Deus.
Espero que aquilo que um dia me feriu, sirva de cura para quem ler, e que cada palavra escrita com dor, floresça em consolo, esperança e recomeço.”

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