Capítulo 7: O chamado nas entrelinhas

“Quando eu finalmente entendi que somos chamados não por mérito, mas por graça.”

Há um tempo em que certas lembranças voltam como sussurros do céu.
Em um desses momentos, recordei-me de quando ainda era menina
devia ter entre oito e doze anos — e ouvi pela primeira vez uma palavra revelada:
“Que um dia eu pregaria para multidões.

Naquela fase, isso soava impossível.
Eu era tímida, introspectiva, com a voz sempre escondida atrás das palavras escritas.
Falar em público parecia um território estranho.
Eu me expressava melhor no silêncio das páginas do que diante dos olhos das pessoas.

Mas Deus tem um jeito curioso de conduzir as coisas.

Hoje, percebo que esse chamado ecoa de outras formas.
Muitas vezes, nos bastidores e não sob holofotes.

No trabalho, nas reuniões, nos treinamentos, nas apresentações…
E, a cada vez que sou chamada a falar publicamente, o mesmo frio na barriga reaparece
junto com a certeza de que não é sobre dominar a cena, mas sobre permitir que Deus a domine.

Ao longo da vida, atravessei desertos que não compreendi de imediato.
Perdas, traumas, dores emocionais e financeiras — feridas que eu só queria esquecer.
Até ouvir uma frase que mudou minha forma de enxergar o sofrimento:

“Onde mais sofremos, talvez ali esteja o nosso mistério.
O deserto não vem para nos destruir, mas para nos dar autoridade sobre aquilo.”

Essa verdade ressoou fundo em mim.
E então compreendi que talvez eu nunca pregue para multidões
mas fale a muitas mulheres que, assim como eu, viveram traumas e acreditaram estar sozinhas.

Talvez o meu púlpito seja outro: uma mesa de café, um treinamento, uma conversa, um texto.
Talvez o que Deus me pediu não foi voz de palco, mas voz de consolo.
E o deserto que me feriu foi o mesmo que me ungiu.

E foi em um dia normal,
enquanto folheava a minha “Bíblia da Pregadora Pentecostal”,
que eu compreendi… aquela palavra ainda vive
não como uma promessa distante, mas como uma semente em germinação.

Talvez eu ainda não tenha falado para multidões,
mas Deus já tem me preparado para falar aos corações que mais precisam ouvir:
aqueles que vivem o mesmo silêncio que um dia me calou. 

“Tu mudaste o meu pranto em dança, a minha veste de lamento em veste de alegria.”
          — Salmos 30:11

Reflexão Final ✨️
Nem todo chamado vem com microfone.
Alguns nascem no segredo, no choro escondido,
na escrita silenciosa de quem um dia se achou pequeno demais para ser usado por Deus.

Há quem pregue com palavras.
Mas há também quem pregue com a forma como perdoa, como recomeça,
como insiste em amar — mesmo ferido.

O deserto não calou a tua voz, ele a afinou.
E talvez o teu altar não tenha holofotes, mas tem lágrimas, verdade e presença.
E é nesse lugar que Deus transforma feridas em ministério.

Pamela Martins

“Cada testemunho compartilhado aqui conta um pouco de mim e muito de Deus.
Espero que aquilo que um dia me feriu, sirva de cura para quem ler, e que cada palavra escrita com dor, floresça em consolo, esperança e recomeço.”

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