Capítulo 70 — Quando eu tive medo de secar, mas Deus me fez transbordar

“Porque a minha inspiração não nasce das minhas dores, mas da presença d’Ele.”

Eu preciso confessar algo que ninguém sabe.
Toda vez que eu termino de escrever um capítulo desse blog, eu fecho o texto, respiro fundo e penso:
“Pronto. Acho que agora acabou.
Já escrevi sobre todas as minhas feridas,
já contei todos os meus tropeços,
já abri todas as cicatrizes que podiam virar testemunho.
E se… não tiver mais nada?”

E esse pensamento vem com um frio na alma, um medo escondido, quase infantil:
Senhor… e se tiver acabado?
E agora?
O que a gente faz?
Era só isso?

E eu sempre levo essa pergunta a Deus.
Porém, curiosamente, Ele nunca me responde com clareza,
nunca me dá um “sim, acabou” ou um “não, tem mais”.
Mas Ele me entrega algo melhor que respostas: PAZ.
Essa paz silenciosa que abraça o coração como quem diz sem palavras:
“Descansa. Quando for hora, Eu te mostro.”

E então acontece.
Às vezes no dia seguinte, às vezes no meio da semana,
às vezes enquanto eu lavo uma louça ou dirijo no trânsito…
uma lembrança me visita.
Não é uma nova dor, um novo trauma, um novo abismo.
É uma cicatriz antiga vista de um ângulo que eu nunca percebi.
É uma história que eu já contei, mas que Deus ilumina agora por outro lado.
É uma revelação inesperada sobre algo que sempre esteve ali, mas que eu só consigo enxergar hoje.

E, de repente, eu entendo:
Não é que as histórias se renovam, é que a minha visão amadurece.
E cada amadurecimento traz um novo testemunho.

Eu achava que escrevia sobre dores.
Mas Deus me mostrou que escrevo sobre percepções.
Sobre os múltiplos jeitos que Ele usa para me ensinar, curar, moldar, corrigir, restaurar.
E isso não depende de feridas novas, depende da minha entrega.

Porque quando a gente se esvazia diante de Deus, Ele transborda.
Quando a gente diz “eu não tenho mais”, Ele diz “então agora Eu posso fazer”.
Quando a gente chega no fim, Ele começa.

E foi aí que eu percebi algo que mudou tudo:
Um dia as dores realmente vão acabar.
Mas a voz de Deus não.

Se eu escrevesse apenas sobre traumas, sim, uma hora eu ficaria sem assunto.
Mas eu não escrevo sobre dores, eu escrevo sobre o Deus que entrou nelas.
Eu escrevo sobre como Ele muda, cura, revela, transforma, amadurece e realinha.
Eu escrevo sobre o que Ele faz enquanto eu vivo.
E Ele vive comigo todos os dias.

O testemunho não é um arquivo morto.
É um rio que corre.
E enquanto esse rio correr dentro de mim, sempre haverá algo a dizer.
Nem sempre sobre feridas; às vezes sobre cura.
Nem sempre sobre quedas; às vezes sobre firmeza.
Nem sempre sobre escuridão; às vezes sobre a luz que ficou acesa depois.

Hoje, eu entendo que o medo de secar é só uma lembrança de que eu dependo d’Ele.
E que a fonte não sou eu, é Deus.
E fonte que é Deus não seca.
Só transborda.

E se um dia eu parar de escrever, não será por falta de histórias.
Será porque Ele me conduziu a outra forma de falar d’Ele.
Mas, enquanto for vontade do céu que eu escreva, Ele vai me soprar cada linha.
E eu vou seguir obedecendo, mesmo quando o silêncio d’Ele parecer resposta.
Porque às vezes o silêncio de Deus não é ausência — é confiança.
Confiança de que eu já aprendi a ouvir o que Ele diz sem precisar que Ele fale alto.

E assim eu sigo.
Sem medo do fim.
Sem desespero do vazio.
Com o coração rendido e as mãos abertas, pronta para receber o que Ele quiser derramar.

E hoje eu sei:
Eu não escrevo porque tenho histórias;
Eu escrevo porque Ele tem propósito.


“O meu cálice transborda.”
— Salmos 23:5

E talvez você também tenha medo de que Deus pare de falar com você.
Talvez ache que seus dias de revelação acabaram, que não há mais nada de novo e que sua história estagnou.
Mas deixa eu te lembrar com carinho:
Deus não fala apenas no extraordinário — Ele fala no diário.
Nas memórias revisitadas, nas cicatrizes que ganharam outra cor, nas percepções que só a maturidade espiritual revela.

Peça a Deus um coração sensível.
Ele sempre tem algo fresco para revelar a quem está disposto a ouvir.

“Aquele que começou a boa obra em vós a aperfeiçoará até o dia de Jesus Cristo.”
— Filipenses 1:6

Pamela Martins

“Cada testemunho compartilhado aqui conta um pouco de mim e muito de Deus.
Espero que aquilo que um dia me feriu, sirva de cura para quem ler, e que cada palavra escrita com dor, floresça em consolo, esperança e recomeço.”

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